O
mês de junho de 2013, certamente entrará para a história do Brasil. Movimentado
inicialmente pela inquietação dos estudantes e trabalhadores que utilizam
diariamente o precário transporte público nas grandes cidades, a revolta que
iniciou sobretudo por causa dos 0,20 centavos a mais nas passagens, acabou colocando
nas ruas do Brasil diversas outras demandas sociais tão emergentes para a
(re)construção de um país cada vez mais entregue a corrupção política e aos
interesses da elite brasileira. O país neste contexto, e também inserido no
caos do cotidiano das cidades, com gastos públicos exorbitantes para a
realização dos megaeventos esportivos no Brasil, fez suscitar ainda mais no povo
brasileiro, organizado sobretudo através das redes sociais, a vontade de
questionar a clara (des)ordem política instalada no país, começando por simples
e concretos questionamentos: Para onde vamos? Ou melhor, para onde queremos ir?
Diante da realidade social brasileira: Copa do Mundo pra que? Pra quem? E os
investimentos em Educação? Saúde?
Nesta perspectiva crítica e
questionadora, impulsionada por diversos movimentos sociais, sindicatos,
militantes de partidos e cidadãos comuns, a bandeira da defesa da garantia de mais
investimentos para serviços públicos básicos como a Saúde e a Educação começou
a ser levada por multidões as ruas das maiores cidades do Brasil, como São
Paulo e Rio de Janeiro, que contagiou rapidamente até mesmo as menores cidades
do país. O país que outrora assistia pela TV escândalos de corrupção política,
agora inicia uma grande marcha reunindo multidões para reivindicar direitos
conquistados nesses 513 anos de história. Um verdadeiro levante popular em prol
de justiça social e do fortalecimento da democracia brasileira.
Em nossa cidade, uma das mais ricas
do Brasil, o movimento também tomou as ruas, visto que por aqui também
vivenciamos a falta de comprometimento político e sobretudo a falta de
transparência no uso dos royalties do petróleo e verbas públicas que deveriam
ser destinadas para a melhoria de vida da população campista. É importante
ressaltar que o município obteve nos últimos anos a pior colocação no IDEB
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Estado do Rio de Janeiro. Que
nesta mesma cidade é oferecido a população um transporte público caótico e
desordenado, hospitais públicos com atendimentos em corredores por falta de
vagas nas enfermarias e UTI’s, além do aumento da criminalidade e tráfico de
drogas.
Enfim, tanto no Brasil quanto em Campos, para muitos,
estes expressivos movimentos que não param de crescer nas ruas brasileiras, que
já causam impactos na estrutura política do país, tem significado “o acordar do
gigante”, o Brasil saindo da inércia, o início de dias melhores com uma ativa
participação popular nas decisões políticas do país e a efetiva concretização
da democracia brasileira. De maneira contrária, para outros não se passa de um
rápido momento, movido por utopias e ilusões que não transformará a realidade
política instalada.
Neste
sentido, refletindo sobre a utopia, como bem aponta Eduardo Galeano, “A utopia
está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe,
jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não
deixe de caminhar”.
Acredito que seja neste sentido utópico daí talvez compreendermos a expressiva participação
da juventude nas marchas das diversas cidades do país, sendo neste momento eles
os atores sociais pioneiros, que cansados com a (des)ordem política e social estabelecida,
estão nas ruas com os trabalhadores lutando para a construção de um
Brasil mais integrado, mais saudável, mais educado, mais justo e melhor servido
em suas necessidades básicas. Além do mais, por ser ainda os jovens, que ainda com
suas utopias e sonhos, são movidos a acreditar em profundas mudanças, e
acredito que por isso as manifestações e movimentos deverão continuar nas ruas,
hoje mais do que nunca palco das lutas por transformações sociais emergentes e
necessárias para a construção de um país menos desigual e melhor para todos os brasileiros.
Renato
Batista – Professor de Geografia